Lançado em 25 de agosto, pela Netflix, DEATH NOTE, a versão live-action da aclamada obra homônima de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata, prometia aos fãs do manga e do anime algo surpreendente, uma adaptação que fizesse jus a trama de gato e rato entre dois personagens com nível de inteligência fora do comum, mas a realidade foi bem diferente disso.
Dividindo opiniões, entretanto, de fãs da obra, DEATH NOTE virou motivo de discussões, inclusive entre a crítica. Muitos fizeram comparações entre o anime e o filme da Netflix, estabelecendo paralelos entre ambos. Mas será que essa é a forma correta de criticar o longa? Quais os reais problemas da adaptação da empresa de streaming? Nesse texto abordo os problemas de DEATH NOTE, da crítica e das comparações, de maneira geral.
Como sempre, o texto a seguir não contém quantidade significativa de spoilers.
FIDELIDADE OU INFIDELIDADE? EIS A QUESTÃO.
Quando a Netflix anunciou Death Note, em momento algum se pronunciou sobre a fidelidade da obra, ou mesmo chegou a dizer que seria uma série. Sendo anunciado desde o começo como um filme solo, logo ficou bem claro que não poderia ser fidedigno aos acontecimentos tanto do manga como do anime.
O anime (pra quem não o assistiu – e que está disponível também na Netflix) tem 37 episódios de 22 minutos cada, o que totaliza mais de 13 horas de história. Impossível fazer um resumo disso em apenas 1 hora e 41 minutos de live-action. Seria necessária pelo menos uma trilogia de cerca de 2 horas e meia para cada filme pra que os 814 minutos do anime tivessem maior espaço e aproveitamento na versão cinematográfica. Esse é o primeiro ponto a ser levado em conta.
Sabendo do que foi dito acima, chegamos à conclusão obvia de que o projeto da Netflix não se trataria de uma adaptação, mas de uma versão. São duas coisas distintas. Esse é o segundo ponto a ser levado em conta. O que nos leva à liberdade criativa do diretor Adam Wingard e dos roteiristas Charley Parlapanides, Vlas Parlapanides e Jeremy Slater (vou abordar melhor os trabalhos destes mais abaixo).
Resumindo: não espere, em hipótese alguma, que filme sequer aluda ao anime, mesmo com os U$ 40 milhões gastos na produção do longa.
Isso quer dizer que o filme da Netflix deve ser analisado e criticado enquanto tal e não como um comparativo à obra original.
NÃO ESTOU SURPRESO. NA VERDADE ESTAVA TE ESPERANDO.
O longa, que foi produzido pela Lin Pictures e Vertigo Entertainment, nos apresenta personagens e personalidades abissalmente distintas do que vemos no original. E isso fica bem claro logo nos primeiros 15 minutos de filme. A partir daí, DEATH NOTE tenta um amálgama de clichês de filmes noventistas onde o cara estabanado faz de tudo pela garota descolada, sob o ensaio de filme trash, num emaranhado de trilhas sonoras que não casam com as cenas em que são colocadas. Chegaram a usar The Power of Love (Celine Dion) no terceiro ato. Se não conhece essa música, procure ela no YouTube pela versão em português, cantada pela Rosana e intitulada Como Uma Deusa. Já deu pra perceber, né?
Conforme a trama avança, ficam cada vez mais claros os furos no roteiro, atuações mal dirigidas, motivações fracas, diálogos batidos, péssima construção de personagens, desenvolvimento feito às pressas e um plot twist que não cola, não convence, especialmente quando levado em conta as personalidades apresentadas na trama.
Tanto a versão manga como o anime de DEATH NOTE se focam no duelo de inteligência entre os personagens de Light, quem detém o Death Note, e o investigador “L“. E é algo espetacular presenciar o jogo de dedução de ambos na versão original. É como observar dois enxadristas excepcionais se enfrentando. É como ver Sherlock Holmes enfrentando seu arque inimigo, Professor Moriarty. A versão da Neflix, por outro lado, se foca nas mortes e no gore. Com uma proposta mais firmada no terror do que no suspense.
EU VOU CAÇAR E VOU ACABAR COM VOCÊ!
Adam Wingard, Charley Parlapanides, Vlas Parlapanides e Jeremy Slater foram os nomes responsáveis por trazer essa versão de DEATH NOTE pela Netflix. Se você não está ligando os nomes aos projetos, não se preocupe. Deixe-me elucidá-los.
- Adam Wingard, diretor, também é responsável pelas direções dos títulos: Você É O Próximo (2011), V/H/S (2012), O ABC da Morte (2012), V/H/S/2 (2013), O Hóspede (2014), Bruxa de Blair (2016) e já foi anunciado como diretor de Godzilla vs Kong, que tem estreia prevista para 2020;
- Os irmãos Parlapanides, são responsáveis pelo roteiro de Imortais (2011);
- Já Jeremy Slater é o nome por trás do roteiro de Quarteto Fantástico (2015).
Acho que agora ficou mais fácil saber nas mãos de quem ficou o longa. E embora eu seja fã da direção de Wingard em certos trabalhos, não há como defendê-lo dessa vez.
Dentre a série incontável de problemas que DEATH NOTE apresenta, o que mais incomoda é o fato da essência do anime/manga não ter sido apresentada. Trata-se basicamente de outra história, com ínfimas semelhanças, personagens diferentes – porém com os mesmos nomes da obra original, salvo poucas exceções -, personalidades diametralmente opostas às originais, com uma pitada de trash. Isso levanta um questionamento:
Se, desde o começo, a ideia era a de contar basicamente outra história, mas apenas mantendo os nomes dos personagens, só que com personalidades diferentes, por que então não contar logo uma nova história com outros personagens?
VEREDITO
DEATH NOTE da Netflix desagradou a enorme maioria dos fãs da serie original, agradou alguns, mas também conseguiu desagradar gente que sequer conhecia a obra. Sim, também teve que não conhecia a obra e acabou gostando da versão. O que só reforça aquilo que sempre ressaltamos por aqui no LE|POP: no final das contas, o que importa é se VOCÊ gostou ou não, indiferente de crítica e de críticos.
De fato, Death Note apresenta problemas, aos montes, e se você já conhecia o manga ou anime e ainda não assistiu a versão live-action da Netflix, muito provavelmente pode não gostar.
A meu ver, teria sido muito mais proveitoso um Spin-Off live-action da série animada. Com novos personagens, uma nova abordagem, novas histórias, nova trama, novas motivações. Não teria sido um fail tão significativo assim.
FICHA TÉCNICA
Título Original: Death Note
Lançamento: 25 de agosto de 2017
Direção: Adam Wingard
Argumento e Roteiro: Charley Parlapanides, Vlas Parlapanides, Jeremy Slater
Death Note é uma criação de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata.
Elenco: Nat Wolff (Light Turner), Lakeith Stanfield (L), Margaret Qualley (Mia Sutton), Shea Whigham (James Turner), Willem Dafoe (Ruyk – voz), Jason Liles (Ryuk), Paul Nakauchi (Watari), Jack Ettlinger (Kenny Doyle), Matthew Kevin Anderson (agente Young), Chris Britton (Peltz), Timothy Lambert (Dr. Norman Ludlam), Kwesi Ameyaw (agente à paisana 1), Justin Stone (agente à paisana 2), Christian Sloan (agente Franks), Artin John (Antony Skomal).
Como sempre enfatizamos: No final das contas, indiferente de críticas e de críticos, o que realmente importa é se VOCÊ gostou ou não do filme.
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